segunda-feira, 31 de agosto de 2009

De um banco de trem


Automamente você acorda
Somente porque tem que trabalhar
Higieniza-se, alimenta-se
Quando percebe, está já a caminhar

É este o tempo que possui
Para sobre seus problemas pensar
Nem recorda por onde passa
Como se nada mais valesse a pena notar

A condução te espera em algum lugar
Ou melhor, na maioria das vezes, és tu
Um ônibus ou trem lotado
Logo cedo já sentes foderem teu cú!

Quantos rostos desconhecidos
Milhares de corpos oprimidos
Acordam, alimentam-se (?) e caminham
E estão também sendo dirigidos

Todos acreditam na utopia Felicidade
Todavia ninguém ainda a viveu
Corpos que se movem pela cidade
Milhões como você e como eu

Não, não temos valor algum.
Somos inteiramente descartáveis
Caso não aceitamos o jogo,
Não abrindo mão da nossa dignidade

A maior parte do tempo, ao trabalho
Tu vives, nós vivemos assim.
Condenados, em campos de concentração
Que não enxergamos
Esperando, apenas, o advento do fim.








segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Trecho de um conto ainda sem título

Trecho de um conto que escrevi já faz um tempo, mas que estou digitando e revisando.

...

Eu já sabia onde ela morava, onde eles moravam, algumas vezes já tinha visto, passando pela rua, um dos dois entrar por aquele portão de cerca de 1 metro de largura que levava para uma escada que dá acesso aos andares superiores da casa. Provavelmente pagavam aluguel. Ficamos parados por cerca de um minuto, sem dizer nada, com as respectivas sacolas plásticas entre os dedos.

            - Qualquer dia preciso visitá-los... Finalmente, disse eu

            - Quer tomar um café? – Perguntou Cíntia, por educação.

            - Eu aceito – respondi de prontidão, de forma inesperada.

            Cíntia me olhou, meio sem jeito. Observei com prazer seus movimentos. Estava seu corpo sob um vestido florido, com detalhes amarelos, meio retro. Sua pele brilhava com o calor daquele dia. A boca delicada sentia sede e se entreabria. Seus braços descobertos revelavam uma pele macia, lisa, que convidava o mais devoto dos cristãos aos mais sórdidos pecados.

            Estendi as mãos para segurar as sacolas de Cíntia, para que ela pudesse, dessa forma, abrir o portão com mais facilidade. Sua inclinada atraiu naturalmente meu olhar à sua bunda. O vestido fazia um belo desenho em seu traseiro, finalmente subimos em um corredor estreito e cinza.

            Chegamos a sua porta. Adentrando, a sala cheirava a alvejante. Estava tudo muito limpo e organizado. Acomodei-me no maior sofá. Havia mais uma poltrona. Ela se dirigiu à cozinha, da qual eu podia ver apenas um armário branco. Decidi segui-la, propus que bebêssemos vinho ao invés do café. Ela recusou, argumentou que não bebia.

            - Mas vinho... até Jesus bebia...

            - Isso é verdade, mas...

            -  Vamos, o vinho é sagrado não apenas por simbolizar o sangue de “cristo”, mas por desinibir as pessoas, por estimular o prazer.

            - Tá bom, mas só uma taça, você sempre me convence – e riu, de uma forma meio bizarra.

            Eu ri também, para entrarmos no mesmo clima.

            Voltei para o sofá onde, com um pouco de esforço, abri a garrafa com as mãos. Enchi, estava gelado o vinho, Cíntia começou a beber e a falar de sua vida, de suas frustrações, de repente se entregou a chorar como se estivesse diante de um grande e único amigo.

            - Calma Cíntia, não chore... Você é uma mulher linda, inteligente, já te admirava desde a escola, eu e a maioria dos caras! Hoje se tornou uma mulher maravilhosa (dei ênfase no “maravilhosa”)... Então me aproximei daquele corpo que exalava um odor natural e encantador. Abracei-a e ela se acomodou em meu corpo, sussurrando um “mas...” e voltando a chorar.

            Passei então a acariciar os seus cabelos, enxuguei seu rosto molhado com um lenço. Cíntia engolia as lágrimas e se acalmava paulatinamente. Segurei-a pelos ombros, olhei no fundo dos seus olhos castanhos e beijei sua boca.  Cíntia correspondeu e beijou-me loucamente, seu hálito  voluptuoso e suas habilidosas mãos excitavam-me demasiadamente.  Sentíamos um do outro o sabor do vinho, já meio embriagados. Beijei sua orelha, desci ao pescoço, ela se contorcia... 



Salvador Dali. Nua na Água. 1925

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Uma guria

O sonho de uma Guria - 02-12-2006

Ela  não pensa mais agora.
Adormeceu sob a água.
Que cai sobre o seu corpo
Quente, entre o vapor.

Assimilada e dissidente
Sua Imaginação floresce
a temperatura sobe sem conforto
O sono amortece sua dor

Sua mente se aquece.
Os problemas, a garota esquece
Formiga a sua pele.
Recria um dia de sol, que sentira o calor
O calor dele, por sua mão úmida e tensa.

A água ousada escorrega sobre ela.
Que sentara-se no chão sem perceber
Daquele banheiro que vira seus segredos
No espaço onde sente-se mais à vontade.

Ali ninguém ouve seu canto.
Ninguém vê seu choro, 
Nem censura os mais íntimos gestos
Diante de uma sólida testemunha, o espelho

Desperta, assustada!
Em sua face molhada
Desce uma lágrima salgada
Ao se recordar do mais recente sonho

Um poema meio antigo, mas é um dos menos piores que fiz e dos que mais gosto!